22 de abril de 2009

No espaço ainda obscuro da leitura


quando nela não entraram de vez os personagens, fica aí um registro meu do celebrado início da nossa leitura de "A rainha dos cárceres da Grécia".
= D ri

Ponto final




Ontem chegamos ao final da leitura de "Avalovara". Foram nove meses de reuniões semanais para compreender um romance essencial que, infelizmente, não tem merecido tanta atenção nem da crítica nem do público leitor. Os encontros estiveram munidos de referências: Erich Auerbach, Walter Benjamin, o Osman Lins dos ensaios ("Guerra sem testemunhas", por exemplo), Hugo Almeida, Ermelinda Ferreira, Hermilo Borba Filho.

Foi uma excelente notícia saber que o relógio de Julius Heckethorn não "se alinha" no final. O autor quebra a expectativa de que em algum momento (tudo aponta à concretização da conjunção perfeita) a Sonata de Scarlatti toque completa, do começo ao fim. Não é o que acontece e, por pequeno que pareça, o detalhe torna-se importante se pensamos que aproxima (como o livro, na totalidade de sua fatura) a arte da vida.

Texto e fotos: FRB.

17 de abril de 2009

O salto do peixe

"Salta o peixe das vastidões do mar, salta o peixe e este salto nem sempre ocorre no momento propício, nem sempre advém próximo à terra, às ilhas, aos arrecifes, nem sempre há luz nessa hora, pode o peixe encontrar um céu negro e sem ventos, ou uma tempestade de raios e relâmpagos, assim o salto, o instante do salto, esse rápido instante pode coincidir com a treva e o silêncio, pode coincidir com o mundo ensolarado, enluarado, o peixe no seu salto pode nada ver, pode ver muito, pode ser visto no seu brilho de escamas e de barbatanas, pode não ser visto, pode ser cego e também pode no salto, no salto, no salto, encontrar no salto, exatamento no salto, uma nuvem de pássaros vorazes, ter os olhos vazados no momento de ver, ser estraçalhado, convertido em nada, devorado, e o espantoso é que esses pássaros famintos representam a única e remota possibilidade, a única, concedida ao peixe, de prolongar o salto, de não voltar às guelras negras do mar. Mas não serão essas aves, seus bicos de espada, uma outra espécie de mar, sem nome de mar?" (Osman Lins, "Avalovara", Companhia das Letras, 2005, p. 52).